Há 8 anos
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
Fénix
Percebo agora que me tenho preocupado mais em agradar do que em ser agradada.
E que de cada vez que me esforço por agradar e não agrado, sinto-me um lixo. Sim, isso, um lixo!
Porque é que quero desesperadamente que algumas pessoas gostem de mim? Porque é que o ser só mais uma pessoa nas suas vidas me dói tanto?
Porque gosto. Bolas, gosto!
Apego-me, dou-me ... assim sem mais e depois... depois de tanto dar, não há retorno. Há vazio. Um vazio enorme.
Sinto-me como se estivesse a cair e só quero alguém que me agarre.
Por favor? Alguém? Algum de vós, de quem gosto e a quem dei... a quem me dei. Não?
Não dei um corpo. Dei uma pessoa. Com sentimentos e angústias, brilho e alegria.
Porque deixo o meu coração grande à mercê de quem não o merece? E porque tenho vontade? Porquê?
A vocês a quem me dei e que me deixaram cair desamparada dou-vos, num último gesto, a minha morte.
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
I Give Up.
Tenho de desabafar. Tenho isto preso cá dentro.
Eu gosto de ti. Mesmo. És um tipo porreiro, tens um sentido de humor brutal e uma forma de ver o mundo muito peculiar e que pouca gente tem.
Lembras-te que te disse no início haver uma afinidade? É por isso e por ter interesse que tento conversar contigo.
Já tentei falar sobre música, filmes, séries... Mas a sensação que tenho é que não estás.
Faz-me falta perceber o que queres. Se tu não quiseres, eu sou a primeira a não querer.
Uma vez perguntei-te se o que querias era exclusivamente físico. Ou não respondeste ou disseste que estava a ser complicada. Se é o que queres porque não dizes? Eu não sou de represálias nem ressentimentos.
Gostava mesmo muito de poder ter uma relação um bocadinho mais viva contigo. Poder manter uma conversa, poder ir beber um café contigo, sei lá.
Isto pode realmente ir por aí se algo mudar? Senão diz-me logo e eu poupo tempo e energia que invisto numa coisa indesejada.
Desculpa-me o desabafo. Gosto de falar sobre as coisas e tirar conclusões com diálogo com a outra pessoa. Não gosto de assumir coisas só porque sim.
Gosto de ti e não digo isto para te chatear, acredita. E gosto daquilo que já foi. E do que ainda não foi. Não quero é estar onde não me querem.
I'm a woman.
I think.
I have feelings.
And I'm not apologizing for that.
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
Desabafo Adolescente
Olha, sabes que mais?
Sou complicada? Sou. E então? Can't handle it?
Estou farta de andar atrás de ti, a tentar brincar contigo, a tentar ganhar confiança e espaço no teu mundo que, pelos vistos, é muito pequeno para mim.
Queres sexo? Só sexo? "Sem complicações e confusões" como tu dizes...
Não, eu quero uma amizade colorida. Aquela coisa em que a parte da amizade também entra, sabes? Sexo só a mim não me interessa... Para orgasmos não preciso de um homem.
É mais do que isso, o corpo... é um invólucro. Pode até ser agradável, e sim gosto de sexo, mas... só?
Chamem-me exigente, complicada, e que mais queiram... Mas sexo só não me satisfaz. Desculpa, desculpa se era isso que querias e que pensaste que te daria.
Ofereço-te mais do que isso. Dou-me mais um bocadinho, dou-te mais do que o meu corpo.
E não, não quero que me digas que me amas loucamente, as coisas não são só pretas ou brancas bolas! Há milhares de tons de cinzento entre as duas. Podemos ficar no meio? Afinal é lá que está a virtude....
"A new notch in your belt is all i'll ever be" - não quero. Mostrei-te de onde vinha a frase, e a tua resposta? "Tenho muitos furos no cinto. E tenho mais do que um cinto". Ah sim? Então não deves precisar de mais um... digo eu.
Não brincas comigo, mal olhas para mim... Fazemos assim, eu desisto, e quando tu quiseres,se quiseres, sabes onde e como me encontrar. Eu espero que valha a pena. E espero sentada para não me cansar. Só porque, não imagino porquê, mas até gosto de ti: deves estar habituadíssimo, aliás, tu és aparentemente irresistível...
Vê lá na tua agenda se há disponibilidade para mim. E já agora, de caminho, se valho a pena o esforço.
E depois de escrever isto penso que sou mesmo parvinha. Devia ser como aquelas mulheres todas-poderosas que mandam estes paspalhos dar uma volta ao bilhar grande e ficam sempre bem e com uma auto-estima perfeita. Mas não sou assim. Sou uma mulher, humana. E tenho esperança que, conhecendo-te melhor, te reveles melhor do que aquilo que por vezes aparentas.
(Aos 25 anos, porque é que ainda tenho tanta fé na Humanidade?)
Sou complicada? Sou. E então? Can't handle it?
Estou farta de andar atrás de ti, a tentar brincar contigo, a tentar ganhar confiança e espaço no teu mundo que, pelos vistos, é muito pequeno para mim.
Queres sexo? Só sexo? "Sem complicações e confusões" como tu dizes...
Não, eu quero uma amizade colorida. Aquela coisa em que a parte da amizade também entra, sabes? Sexo só a mim não me interessa... Para orgasmos não preciso de um homem.
É mais do que isso, o corpo... é um invólucro. Pode até ser agradável, e sim gosto de sexo, mas... só?
Chamem-me exigente, complicada, e que mais queiram... Mas sexo só não me satisfaz. Desculpa, desculpa se era isso que querias e que pensaste que te daria.
Ofereço-te mais do que isso. Dou-me mais um bocadinho, dou-te mais do que o meu corpo.
E não, não quero que me digas que me amas loucamente, as coisas não são só pretas ou brancas bolas! Há milhares de tons de cinzento entre as duas. Podemos ficar no meio? Afinal é lá que está a virtude....
"A new notch in your belt is all i'll ever be" - não quero. Mostrei-te de onde vinha a frase, e a tua resposta? "Tenho muitos furos no cinto. E tenho mais do que um cinto". Ah sim? Então não deves precisar de mais um... digo eu.
Não brincas comigo, mal olhas para mim... Fazemos assim, eu desisto, e quando tu quiseres,se quiseres, sabes onde e como me encontrar. Eu espero que valha a pena. E espero sentada para não me cansar. Só porque, não imagino porquê, mas até gosto de ti: deves estar habituadíssimo, aliás, tu és aparentemente irresistível...
Vê lá na tua agenda se há disponibilidade para mim. E já agora, de caminho, se valho a pena o esforço.
E depois de escrever isto penso que sou mesmo parvinha. Devia ser como aquelas mulheres todas-poderosas que mandam estes paspalhos dar uma volta ao bilhar grande e ficam sempre bem e com uma auto-estima perfeita. Mas não sou assim. Sou uma mulher, humana. E tenho esperança que, conhecendo-te melhor, te reveles melhor do que aquilo que por vezes aparentas.
(Aos 25 anos, porque é que ainda tenho tanta fé na Humanidade?)
segunda-feira, 9 de junho de 2014
Afinal, o que é traír?
Tenho um homem. Tenho um homem que pode muito bem ser o homem da minha vida e, ainda assim, olho para o lado.
Não sei. Sei que seria mais tranquila (e sabe-se lá mais o quê) se fosse igual a toda a gente.
Tenho um homem que pode muito bem ser o homem da minha vida e, ainda assim, tenho um ou outro caso paralelo.
Uma coisa não tem nada a ver com outra. Eu gosto mesmo dele, e não quero deixá-lo. Mas ainda assim olho para o lado.
Porque é que todos me condenam? Não me sinto criminosa, embora me sinta amedrontada e perseguida pelos juízos alheios.
Não consigo perceber porque é que os outros não entendem a minha visão, em que traír é estar com uma pessoa e amar outra.
Afinal o que é traír? E porque é que para mim é diferente daquilo que é para o resto do mundo?
Às vezes gostava de ser igual a toda a gente.
Com os "paralelos", há sempre uma cumplicidade, carinho, intimidade... Mas não sendo apenas e só, cruamente, sexo, também não é amor.
Será que sou uma aberração da moral e bons costumes? Ou será que sou um ser iluminado acima da moral que a sociedade definiu?
Será que sou uma aberração da moral e bons costumes? Ou será que sou um ser iluminado acima da moral que a sociedade definiu?
Não sei. Sei que seria mais tranquila (e sabe-se lá mais o quê) se fosse igual a toda a gente.
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
Ok.
Ok.
Estava atentar encontrar uma música que te queria enviar, mas não consigo.
Acho que ouves música de uma forma diferente de como eu ouço música (ouves/compreendes/ percepcionas).
De qualquer modo, acho que consigo perceber. Consigo ouvir a mesma música de duas (?) formas distintas. E curiosamente a música soa bem diferente. Não consigo explicar mas gostava de fazer uma ressonância funcional ouvindo a mesma música de formas distintas e investigar se existem diferenças a nível do funcionamento cerebral.
Estas a rir? A sorrir talvez?
Não tem piada!! :)
Estive recentemente a ver um documentário sobre línguas estranhas faladas por crentes em religiões. Científicamente parece que eles conseguem "desligar" a parte do córtex que é treinada desde a infância para fazer com que não balbuciemos (e que faz com que a nossa fala seja coerente e padronizada), e conseguem assim falar fluentemente uma "língua" sem qualquer padrão.
Estive recentemente a ver um documentário sobre línguas estranhas faladas por crentes em religiões. Científicamente parece que eles conseguem "desligar" a parte do córtex que é treinada desde a infância para fazer com que não balbuciemos (e que faz com que a nossa fala seja coerente e padronizada), e conseguem assim falar fluentemente uma "língua" sem qualquer padrão.
Porque não poderá passar-se o mesmo com a forma como percepcionamos a música? :)
É uma daquelas coisas em que de vez em quando dou por mim a pensar.´
Estou mesmo mal naquele trabalho :p
Por falar em trabalho, tenho tido muito, e hoje... bem, hoje, saltou-me a mola e em resposta a uma insinuação do tipo " sabes ler?" respondi "deves estar a gozar com a minha cara". O contexto foi, eu perguntei algo, ela respondeu que sim, levou um raspanete porque eu fiz aquilo que lhe perguntei (e enquanto levava o dito raspanete ainda contra-argumentou), mas depois veio, cheia de fel,
ter comigo, dizer-me para abrir um documento geral e perguntar:" O que é que está aí escrito?". Duas vezes.
Por falar em trabalho, tenho tido muito, e hoje... bem, hoje, saltou-me a mola e em resposta a uma insinuação do tipo " sabes ler?" respondi "deves estar a gozar com a minha cara". O contexto foi, eu perguntei algo, ela respondeu que sim, levou um raspanete porque eu fiz aquilo que lhe perguntei (e enquanto levava o dito raspanete ainda contra-argumentou), mas depois veio, cheia de fel,
ter comigo, dizer-me para abrir um documento geral e perguntar:" O que é que está aí escrito?". Duas vezes.
Tenho de trabalhar nisto. Porque hoje, não tenho presença de espírito para parar, respirar e cagar de alto nesse tipo de situações, saindo airosamente e sentindo-me interiormente superior. Não: Salta-me a tampa à marmita, vou aos arames, passo-me dos carretos, espalho-me (e quando eu me espalho... ninguém me junta!) salta-me a mola e sobe-me a tensão a ponto de entrar em sério risco de AVC.
Acho que ainda me meto noutro curso: desenvolvimento pessoal e comunicação não-violenta.
(Claro que sei o que posso, o que não posso e quando posso e não posso. Mas apesar disso hoje estiquei-me um bocadinho).
Isto parece um diário. À falta de música lavei aqui a minha alma. Bem podias lavar a tua também (se bem que não sei bem se tens disso ).
Preciso de psicoterapia. Nota-se muito?
Beijinho. Dá notícias, senão desassossegas-me (ou se calhar é ao contrário e desassossegas-me quando me dás notícias).
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
O resultado de um café 2 anos (?) depois da última vez que te vi.
Bolas, como é fácil deixar-me pelo beicinho. Disseste-me que estava tão bonita e aquilo ecoa na minha cabeça desde aí. Que maravilha! Há já bastante tempo que mo não diziam da forma como o disseste.
Obrigado.
---------------------------
A minha mente e a minha parte emocional não funcionam como a tua. Entende que a culpa é algo capaz de me perseguir vorazmente. Tenho medo disso. De mim.
Apesar de isso ter mudado, continuo a ter uma atracção por ti que me desconcerta (desde sempre, aliás).
Apesar de isso ter mudado, continuo a ter uma atracção por ti que me desconcerta (desde sempre, aliás).
Acho que também andei à procura em ti de algo que me fizesse gostar menos ou que me fizesse sentir menos atraída por ti.
E andei à procura (em ti) de um carinho especial por mim.
(Encolho-me ao escrever isto, incomoda até).
Não sei se com isso procuro algo que me dê algum conforto na minha mácula. (Provavelmente.)
(Encolho-me ao escrever isto, incomoda até).
Não sei se com isso procuro algo que me dê algum conforto na minha mácula. (Provavelmente.)
Pensando nisso, tenho a leve impressão de o ter sentido. Mas tão leve que não sei se existiu. (Existiu? Existe?)
Nunca pensas nisto? Sou só eu?
Sinto-me um bocadinho perdida, confesso.
Porque não partilhas mais de ti? :)
Medo? (Não de mim... de ti próprio. De perceberes que és maior do que aquilo que conheces? E de percepcionares coisas que podem agitar aquilo que pensas ser sólido em ti ? Não há desconforto como o de perceber que somos mais do que aquilo que conhecemos. É uma aventura, um desafio e... muitas vezes (falo por mim), um verdadeiro prazer.
Um beijinho psico-chato-filosófico- característico .
Medo? (Não de mim... de ti próprio. De perceberes que és maior do que aquilo que conheces? E de percepcionares coisas que podem agitar aquilo que pensas ser sólido em ti ? Não há desconforto como o de perceber que somos mais do que aquilo que conhecemos. É uma aventura, um desafio e... muitas vezes (falo por mim), um verdadeiro prazer.
Um beijinho psico-chato-filosófico-
domingo, 21 de outubro de 2012
Senti-me nua quando li isto.
O homem que não traía
"Olha, vai indo pra lá e me espera naquela posição.
De quatro, de costas, de bruço, com a cara voltada para a parede, com a cara enfiada na poltroninha da sala moquifada de um flat moquifado. A cara encostada no geladinho da última chuveirada. De cara pro chão.
Assim ele a queria: sem olhar em seus olhos, sem beijar sua boca, sem sentir sua alma. Assim não era traição, ele pensava.
Ele era um homem sério, apaixonado pela mulher, apaixonado pelo filho que estava aprendendo a dizer papai, apaixonado pela instituição família, apaixonado pelo apartamento novo, apaixonado pela casa na praia com cadeirinha de balanço de frente para o mar, apaixonado pela profissão, apaixonado pelo salário, apaixonado pelo respeito que tinha por ser um homem de família e bem-sucedido, apaixonado demais pra ter alguma nova paixão.
Olha, vai indo pra lá e me espera naquela posição. A posição ela podia escolher, desde que fosse qualquer uma em que ele não visse seu rosto.
Ela aceitava e tanta submissão a excitava. A hipocrisia disfarçada de todos os relacionamentos era a maior causa de sua angústia indescritível. Ela tinha um nojo da dualidade de intenções dos seres humanos que ora amam, ora usam, e preferia a clareza da sacanagem e a certeza do vazio. Ela escutava o som da porta, o cheiro dele invadia o quarto e ela desabrochava como uma flor ao se alimentar do Sol, mesmo com tanta escuridão. Uma pressão sem a menor pretensão de carinho a lançava para frente, ele a prendia pelos cabelos.
Aquilo durava horas até que tanto suor trouxesse a obviedade do banho. Ele tomava primeiro e se despedia dela, sem olhar pra trás: tchau minha querida.
De volta para a rua cheia de casais que passeavam de mãos dadas, ela andava sem saber se sorria ou se chorava. Sentia-se violentada pela inexistência do amor e absurdamente feliz pelo mistério da outra mulher que a invadia vez ou outra. Lembrava de Chico Buarque e se sentia reconfortada pelas baixarias e putarias transformadas em poesia. Era um romance sujo, mas era um romance.
Olha, vai indo pra lá e me espera naquela posição. Era um vício e talvez você não entendesse nada olhando para ela. Uma moça bonita, uma moça tão paparicada, uma moça tão menina. Ela tinha homens lhe oferecendo carinho em bandejas de ouro.
Mas talvez você entendesse a moça se mergulhasse fundo nas estranhezas do espírito e lembrasse de um dia em que se excitou com algo doloroso: um amor proibido qualquer, uma falta de telefonema qualquer, um fechar de rosto e um olhar sombrio no lugar de semblantes rosados de amor.
Quando o amor é falso, a mágoa é tão grande que você o trai amando justamente a falta dele.
Ou nem precisa tanto, talvez você entendesse a moça se algo tão preenchedor rasgasse seus orgulhos, suas certezas, suas dignidades.
Ele entrava nela e calava qualquer opinião formada, qualquer preconceito, qualquer direito de ser melhor que alguém. Era um alívio: ela era humana e suja como todos, era louca e estranha, era fraca e o mundo se tornava menos feio e as pessoas mais passíveis de perdão.
Talvez você a entendesse se parasse de pensar um pouco e deixasse o corpo ir até onde o tormento manda. Você a entende bem.
Olha, vai indo pra lá e me espera naquela posição.
Estavam lá mais uma vez. Ela espremida, ele espremendo. O caldo sofrido de uma paixão. Um barulho estranho, a maçaneta manuseada impacientemente, alguém queria entrar ali. Era alguém que tinha errado de quarto e com um pigarreio envergonhado e velho se desculpava pelo erro.
Era tarde demais, com o susto ela tinha olhado para trás e eles haviam se olhado bem no fundo dos olhos por mais de dois segundos.
Você tá linda, esse corte de cabelo ficou ótimo em você você tá bonita.
Ela o tentou beijar pela primeira vez e ele deixou. Tomaram banho juntos e ela fez uma brincadeira com as pintinhas das costas dele. Ele fez uma piada com a pintinha da virilha dela. Eles riram e ela o achou lindo. Ele a achou fantástica e inteligente. Ela beijou o pescoço dele e ele fez um carinho bem de leve nela . Ele a ajudou a sair da banheira e enrolou a toalha em seu corpo, dando um beijo em sua testa. Ela fez cara de menina, ele fez cara de proteção. Atravessaram a rua de mãos dadas, e nunca mais se viram."
De quatro, de costas, de bruço, com a cara voltada para a parede, com a cara enfiada na poltroninha da sala moquifada de um flat moquifado. A cara encostada no geladinho da última chuveirada. De cara pro chão.
Assim ele a queria: sem olhar em seus olhos, sem beijar sua boca, sem sentir sua alma. Assim não era traição, ele pensava.
Ele era um homem sério, apaixonado pela mulher, apaixonado pelo filho que estava aprendendo a dizer papai, apaixonado pela instituição família, apaixonado pelo apartamento novo, apaixonado pela casa na praia com cadeirinha de balanço de frente para o mar, apaixonado pela profissão, apaixonado pelo salário, apaixonado pelo respeito que tinha por ser um homem de família e bem-sucedido, apaixonado demais pra ter alguma nova paixão.
Olha, vai indo pra lá e me espera naquela posição. A posição ela podia escolher, desde que fosse qualquer uma em que ele não visse seu rosto.
Ela aceitava e tanta submissão a excitava. A hipocrisia disfarçada de todos os relacionamentos era a maior causa de sua angústia indescritível. Ela tinha um nojo da dualidade de intenções dos seres humanos que ora amam, ora usam, e preferia a clareza da sacanagem e a certeza do vazio. Ela escutava o som da porta, o cheiro dele invadia o quarto e ela desabrochava como uma flor ao se alimentar do Sol, mesmo com tanta escuridão. Uma pressão sem a menor pretensão de carinho a lançava para frente, ele a prendia pelos cabelos.
Aquilo durava horas até que tanto suor trouxesse a obviedade do banho. Ele tomava primeiro e se despedia dela, sem olhar pra trás: tchau minha querida.
De volta para a rua cheia de casais que passeavam de mãos dadas, ela andava sem saber se sorria ou se chorava. Sentia-se violentada pela inexistência do amor e absurdamente feliz pelo mistério da outra mulher que a invadia vez ou outra. Lembrava de Chico Buarque e se sentia reconfortada pelas baixarias e putarias transformadas em poesia. Era um romance sujo, mas era um romance.
Olha, vai indo pra lá e me espera naquela posição. Era um vício e talvez você não entendesse nada olhando para ela. Uma moça bonita, uma moça tão paparicada, uma moça tão menina. Ela tinha homens lhe oferecendo carinho em bandejas de ouro.
Mas talvez você entendesse a moça se mergulhasse fundo nas estranhezas do espírito e lembrasse de um dia em que se excitou com algo doloroso: um amor proibido qualquer, uma falta de telefonema qualquer, um fechar de rosto e um olhar sombrio no lugar de semblantes rosados de amor.
Quando o amor é falso, a mágoa é tão grande que você o trai amando justamente a falta dele.
Ou nem precisa tanto, talvez você entendesse a moça se algo tão preenchedor rasgasse seus orgulhos, suas certezas, suas dignidades.
Ele entrava nela e calava qualquer opinião formada, qualquer preconceito, qualquer direito de ser melhor que alguém. Era um alívio: ela era humana e suja como todos, era louca e estranha, era fraca e o mundo se tornava menos feio e as pessoas mais passíveis de perdão.
Talvez você a entendesse se parasse de pensar um pouco e deixasse o corpo ir até onde o tormento manda. Você a entende bem.
Olha, vai indo pra lá e me espera naquela posição.
Estavam lá mais uma vez. Ela espremida, ele espremendo. O caldo sofrido de uma paixão. Um barulho estranho, a maçaneta manuseada impacientemente, alguém queria entrar ali. Era alguém que tinha errado de quarto e com um pigarreio envergonhado e velho se desculpava pelo erro.
Era tarde demais, com o susto ela tinha olhado para trás e eles haviam se olhado bem no fundo dos olhos por mais de dois segundos.
Você tá linda, esse corte de cabelo ficou ótimo em você você tá bonita.
Ela o tentou beijar pela primeira vez e ele deixou. Tomaram banho juntos e ela fez uma brincadeira com as pintinhas das costas dele. Ele fez uma piada com a pintinha da virilha dela. Eles riram e ela o achou lindo. Ele a achou fantástica e inteligente. Ela beijou o pescoço dele e ele fez um carinho bem de leve nela . Ele a ajudou a sair da banheira e enrolou a toalha em seu corpo, dando um beijo em sua testa. Ela fez cara de menina, ele fez cara de proteção. Atravessaram a rua de mãos dadas, e nunca mais se viram."
(By Joice.kutty)